Alem da Fortaleza cap 2

Capitulo 2: rocha da rocha

O ronco do motor se perde no silencio, a vibração é tudo que sinto é tão profunda que me invade o peito numa simulação do êxtase que me faz aquilo que alimenta minh’alma.

Meu apreço pelo belo é tão doentio quanto a insanidade que me bate, quando nua, minha pele toca o sol.  É o que me faz viver e é minha ruína e foi o que me tirou a inocência.


Como gostaria de dizer que foram dias felizes os da minha infancia, o facinio juvenil pelo belo e novo... Ha, o tenho até hoje... Sou uma criança.

Desde o berço o calor já me açoitava, mas do calor humano eu sinto falta. Como queria me lembrar do sabor do leite daquele seio em que me agarrava... Ela também se agarrava em mim, era a rocha da rocha. E hoje, ver seu rosto se esvaindo das fotos amareladas entrepostas entre as paginas de seu livro preferido me angustia a alma, aquela traça também me arranca um pedacinho por noite... E toda noite!

Aquela pessoa a seu lado... Também mal me lembro, não me dói tanto, mas deveria. Suas mãos eram ásperas, assim como as minhas hoje. Estava sempre lá observando meus pecados, me esperando descobrir que toda sabedoria do mundo estava nos seus olhos.

Eu nem lembro de como ele se foi, algum gesto, última palavra. Um dia o vazio apenas veio e a deriva, sem saber chorar fui a rocha da mais quente rocha do deserto.